"Se alguém te perguntar o que quiseste dizer com um poema, pergunta-lhe o que Deus quis dizer com este mundo... "
[Mario Quintana]

domingo, 30 de agosto de 2009

MERCÚRIO

Convivem dentro de mim
O sublime e o mesquinho
O amor e a dúvida
A fé e o desespero
A dor espontânea
O sorriso encomendado.

Sou muitas dentro de uma só
Repartida mas não dispersa
Feito gota de mercúrio em superfície plana...

Contida por essa falta de fronteiras
Sufocando no meio de tanto espaço livre
Esparramada no vazio de sentido e sentimentos.

Minha natureza é líquida, incerta
Deseja fluir, unificar-se, expandir-se no calor das idéias e ideais.

Minha natureza é terrosa, profunda, úmida,
Deseja contemplar, entregar-se, inspirar o odor sumarento das matas fechadas.

Sou um pedaço de passado
Longínquo
Aprisionado numa redoma de cristal.

Frágil cristal: um sopro e acabou-se.

Mas então, o que será feito do passado,
Sem a proteção de sua redoma?

Terá que existir, tornar-se real
E a realidade não mais lhe pertence.

Foi-se

Repartida
Dispersa

Feito mercúrio em superfície plana...

Niterói, 23 de novembro de 2008

PROCURA-SE

Em algum ponto do caminho,
Eu me perdi de mim.

Caí em alguma curva,
E resolvi ficar por lá.

Tenho uma vaga lembrança de mim mesma,
E desconfio onde me perdi.
No entanto, por mais que procure,
Por mais que vasculhe a memória,
Por mais que repasse o caminho percorrido,

Não consigo me encontrar.

Ficou um vazio no lugar em que eu costumava estar.
Ficou um vazio que ninguém mais preenche,
Porque só eu encaixo lá.

Se algum dia você topar por aí
Com uma menina jovem e tola,
Cheia de amor e de bobagens pequenas,
Com alguns cachos de nuvens saindo da cabeça,
Caída num canto do caminho,
Por favor, me avise.

Peço que me devolva, se me encontrar.

Niterói, 22 de junho de 2008